O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) apela ao primeiro-ministro que “cumpra a promessa feita porque se for necessário interromper o regime presencial de aulas, a comunidade educativa continua a não estar preparada por falta de ferramentas digitais”. Jorge Ascenção, da CONFAP, alerta para a necessidade de assistentes operacionais, o “calcanhar de Aquiles” das escolas. defendendo a “valorização urgente” desta classe profissional.
Falando no ciclo de conferências online ‘Conversas com Rosto’, subordinada ao tema ‘Que Escola Hoje?’, a convite de Altino Bessa, líder da Concelhia de Braga do CDS-PP, Filinto Lima afirmou que António Costa “ainda não cumpriu a promessa, feita no dia 9 de Abril, de garantir meios digitais para todos os alunos”, alertando para o “estado obsoleto” da “maioria dos computadores existentes nas escolas”.
“Para que haja igualdade de oportunidades é categórico que o Governo cumpra”, frisou o responsável da ANDAEP.
Tecendo um elogio aos autarcas, professores, alunos e pais que, aquando da interrupção do ensino presencial, fizeram um “esforço extra” para assegurar que os alunos “viam garantidas as condições informáticas exigidas pelo ensino à distância”, Flinto Lima atirou: “devemos bater palmas aos professores que fizeram um trabalho de excelência para enfrentar este ano um tanto ou quanto ‘esquizofrénico’”.
Filinto Lima alertou ainda o Governo para a “falta formação” dos professores” no que respeita a ferramentas informáticas, caso haja necessidade de regressar ao modelo à distância.
Ainda assim, acrescentou, “os nossos professores, apesar das dificuldades de adaptação às novas ferramentas, mostraram-se fortes na acomodação ao digital. Podemos confirmar que os professores têm mais capacidade digital agora do que em Março”.
“No entanto, é fundamental dotar as escolas de meios digitais capazes e insistir na formação de professores nesta área”, repetiu, referindo que toda a comunidade educativa prefere o regime presencial em detrimento do regime de ensino à distância”.
Por sua vez, Jorge Ascenção, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) defendeu “um equilíbrio entre o normal digital e o físico”, referindo a existência de “muitas crianças cujo único porto de abrigo é a escola”.
“Por estas crianças é importante que a escola não encerre. Temos crianças que estão há seis meses sem terapias. Famílias que se sentiram muito desamparadas. A Escola tem que dar resposta. Durante a pandemia tem que se continuar a praticar uma Escola Inclusiva”, alertou.
“MUITO RECEIO”
Jorge Ascenção acredita que “os pais sentem segurança em deixar os filhos na escola” e que “paira um optimismo em relação ao que poderá acontecer no decorrer do ano lectivo”, apesar “nem todas as famílias estiveram envolvidas naquilo que é a vida escolar”.
Contudo, reconhece que no início de ano lectivo não foi dada de “forma coerente” na medida em que os horários, turmas e outra logística “foram preparados quase em cima do acontecimento”.
Dizendo que “se vive um tempo de muito receio”, até à data, “a comunidade educativa foi conseguindo ultrapassar todos os entraves, apesar do modus operandi imposto não ter facilitado a prática no terreno”.
“A escola preparou-se. A comunidade educativa está organizada para minimizar danos”, assegurou.
Ressaltou ainda que “os comportamentos e atitudes estão também na rua”. “Ninguém deseja o regresso a casa e, como tal, há que continuar a pensar que as questões de segurança de pouco valerão dentro da escola se, no exterior, não mantivermos um comportamento preventivo”.
Referindo a “necessidade de encontrar equilíbrio entre as regras e o contexto”. Jorge Ascenção deu o exemplo o que acontece na infância e no 1.º ciclo onde não é obrigatório o uso de máscara (à excepção do arquipélago da Madeira), “mas os pais levaram os seus filhos para a escola com máscara”.
“Esta atitude demonstra um respeito superior pela saúde pública. Mesmo assim é necessário encontrar harmonia entre o bem-estar/conforto das crianças e a saúde”, rematou.
EDUCAÇÃO, “O PARENTE POBRE”
Questionados por Altino Bessa, presidente da Concelhia centrista e vereador na concelhia bracarense, sobre se os anos de infância e o 1.º ciclo são os “parentes pobres da Educação”, Filinto Lima responde que “a Educação, no seu todo, é o parente pobre do Orçamento de Estado”.
Observou que tanto a infância como o 1.º ciclo dependem das autarquias e, nesta medida, “há autarquias que apoiam estas valências e outras que não”.
Assim, espera que António Costa “cumpra a promessa feita no último sábado que se prende com o anúncio de quantos assistentes operacionais serão afectos às escolas públicas. As escolas precisam de mais funcionários para responder às várias exigências de segurança”.
“Os assistentes operacionais são o ‘calcanhar de Aquiles’ [das escolas]”, disse Jorge Ascenção, defendendo a “valorização urgente” desta classe profissional.
Fernando Gualtieri (CP 1200)