A candidata presidencial Catarina Martins acusou o Governo de ter deixado os trabalhadores da Bosch Braga sozinhos em “negociações muito difíceis” com a empresa a propósito do ‘lay-off’ que começou no início deste mês.
Em declarações aos jornalistas após uma reunião com a Comissão de Trabalhadores da Bosch Braga, Catarina Martins lembrou, esta sexta-feira, que esta empresa recebe dinheiro do Estado português “para manter os postos de trabalho”.
“Se nós pagamos, todos nós, enquanto país, para que a Bosch mantenha aqui postos de trabalho, depois temos de exigir que esses postos de trabalho sejam efetivamente mantidos, e isso não está a acontecer”, referiu.
Defendeu que, quando a empresa não mantém os postos de trabalho, o Governo português “devia agir e não devia deixar os trabalhadores sozinhos em negociações muito difíceis com a empresa, que acabam sempre com os trabalhadores a perder”.
Acrescentou ainda que cabe a um Presidente da República dizer que, “quando o dinheiro de todos nós paga a uma multinacional para ter empregos em Portugal, o Governo português não pode deixar os trabalhadores sozinhos quando a empresa não cumpre”.
A Bosch de Braga entrou este mês em ‘lay-off’, uma situação que durará “até presumivelmente” abril de 2026, devido à escassez de componentes para peças eletrónicas.
A decisão afeta 2500 trabalhadores.
“IRRESPONSABILIDADE”
O ‘lay-off’ consiste na redução temporária dos períodos normais de trabalho ou suspensão dos contratos de trabalho efetuada por iniciativa das empresas, durante um determinado tempo, devido a motivos de mercado, motivos estruturais ou tecnológicos ou catástrofes ou outras ocorrências que tenham afetado gravemente a atividade normal da empresa.
Catarina Martins criticou ainda a estratégia de stocks por parte das grandes empresas, classificando-a de “irresponsável”.
“Nunca têm stocks e qualquer pequena abanão internacional faz com que mandem trabalhadores para ‘lay-off’ ou façam despedimentos. Isto não é aceitável. A indústria tem de ter uma estratégia para proteger a continuidade do seu trabalho”, defendeu.
Para a antiga líder do Bloco de Esquerda, a Europa tem de ter uma estratégia de reindustrialização, “que é sempre prometida, mas nunca mais chega e ela é mesmo muito importante”.
“E é porque ela não existe que quando há uma quebra de fornecimento da China, há empresas que param, simplesmente. E aqui há também um problema de subserviência da União Europeia aos Estados Unidos da América”, disse ainda.
A Bosch já disse que, assim que a escassez de componentes eletrónicos for ultrapassada, a “produção em Braga deverá regressar à normalidade”.
Maximiliano Pereira, da Comissão de Trabalhadores, disse que a empresa emprega atualmente cerca de 3300 pessoas em Braga.
Acrescentou que, desde setembro do ano passado até hoje, já terão saído cerca de 700 trabalhadores.






