A SOS Animal vai apresentar queixa ao Ministério Público (MP) devido à garraiada em Vila Franca de Xira, organizada pelo CDS-PP, onde o candidato à autarquia, Paulo Núncio, acabou prostrado no chão após ser colhido por um bezerro.
Num comunicado enviado às redações, a organização “manifesta a sua profunda preocupação perante a participação do deputado Paulo Núncio […] numa garraiada em Vila Franca de Xira em que foi utilizado um bezerro – um animal juvenil, especialmente vulnerável.”
“A SOS Animal solicitou à Inspeção-Geral das Atividades Culturais (IGAC) esclarecimento sobre o licenciamento/comunicação do evento em causa e irá apresentar queixa ao Ministério Público, pedindo investigação ao cumprimento das obrigações legais aplicáveis”, acrescenta a organização.
E esclarece ainda que os espetáculos tauromáquicos têm de ser comunicados à IGAC 15 dias antes “com identificação do promotor, recinto, tipo e número de reses, seguros e restantes elementos legais.”
“A utilização de um bezerro em contexto recreativo expõe um animal juvenil a medo, stress e risco de lesão — eticamente indefensável. Se, além disso, o evento não tiver cumprido a lei, estaremos perante um duplo falhanço: jurídico e civilizacional.”
VIOLÊNCIA ANIMAL
A organização deixa ainda uma clara crítica ao CDS-PP e, particularmente a Paulo Núncio, afirmando que “virilidade performativa não substitui competência”.
“É sempre mais fácil chamar ‘urbanodepressivos’ aos outros do que encarar o espelho após ser colhido por um bezerro mais pequeno do que muitos cães. As imagens mostram o que a realidade confirma: virilidade performativa não substitui competência — e muito menos empatia por seres sencientes. Cultura não é desculpa para violência gratuita”, atira a SOS Animal.
Mas para além daquilo que considera ser “violência animal”, a organização realça ainda que as atividades tauromáquicas obrigam à mobilização de recursos públicos de saúde, exatamente devido ao perigo que estas atividades representam para os próprios seres humanos.
“Num SNS com carências conhecidas, é difícil aceitar que o erário continue a financiar a logística de ‘brincadeiras’ com animais, promovidas por quem deveria dar o exemplo”, afirma.
Por tudo isto, a SOS Animal exige esclarecimento público da IGAC sobre “licenças/comunicações e demais requisitos legais do evento”; uma apreciação urgente da queixa e do inquérito “para apuramento de factos e responsabilidades” por parte do MP; e ainda um compromisso claro dos partidos e titulares de cargos políticos para com a “lei e o bem-estar animal, abstendo-se de promover/participar em eventos que violem o quadro legal ou coloquem em causa animais juvenis”.
O CASO
Recorde-se de que Paulo Núncio, candidato à Câmara de Vila Franca de Xira do CDS-PP, tentou realizar uma pega numa garraiada organizada pelo partido nessa mesma cidade.
Em imagens captadas no local, e partilhadas no Facebook do CDS-PP e até pelo próprio protagonista do momento, é possível ver o deputado a ser colhido por um bezerro, acabando prostrado no chão.
Apesar do percalço, este não hesitou em considerar que “foi uma tarde muito bem passada”.
“Como anunciado, o candidato pegou (ou tentou pegar) um bezerro”, pode ler-se na publicação feita pelo partido que, apesar de ter brincado com o momento, não escapou às críticas dos defensores dos animais.
Vídeo Facebook Paulo Núncio