O embaixador do Irão em Lisboa, Morteza Damanpak Jami, esclareceu ao PressMinho que o seu país “sempre comprou medicamentos essenciais” a Portugal, situação que mudou radicalmente com a Administração norte-americana de Donald Trump.
As sanções impostas à República Islâmica Irão pelo Presidente republicano dos Estados Unidos resultaram na proibição da compra fora de portas de medicamentos, um bem essencial para as autoridades sanitários iranianas, sobretudo no contexto da pandemia da covid-19, nomeadamente a Portugal.
Assim, rectifica-se a notícia publicada na passada sexta-feira, agora com o esclarecimento do representante diplomático de Teerão em Portugal.
“Trump proíbe Irão de comprar medicamentos a Portugal, afirma em Braga embaixador iraniano
O embaixador do Irão em Lisboa revelou que o seu país está impedido de comprar medicamentos a Portugal, numa altura em que o seu país combate a pandemia da covid-19.
Falando ao PressMinho à margem do encontro que manteve na passada sexta-feira com Ricardo Rio, presidente do município bracarense, Morteza Damanpak Jami afirma que as autoridades de saúde iranianas estão proibidas de recorrer a Portugal para adquirir os medicamentos de que necessita “urgentemente”, num momento “especialmente difícil” no combate ao SARS-CoV-2 no país, o mais atingido em toda a região do Médio Oriente.
“O sucessivo agravamento das sanções impostas pela Administração de Donald Trump cortaram as linhas de financiamento para a compra dos medicamentos numa altura em que a actividade económica está bastante enfraquecida pela pandemia e, claro, pelas próprias sanções”, diz. Desta forma, a aquisição de medicamentos em Lisboa foi interrompida, contra a vontade as autoridades de saúde iranianas.
TRUMP OU BIDEN?
Mesmo afirmando que as pesadas sanções, a pandemia e a quebra dos preços do petróleo estão “a provocar tempos muito difíceis”, o representante diplomático do país dos ayatollahs afirma que avaliar uma Administração norte-americana com Donald Trump ou outra com o democrata Joe Biden, o presidente eleito, é colocar uma “falsa questão”.
“O importante é não é a mudança da Administração dos Estados Unidos. É o comportamento para com o nosso povo que é importante”, diz, lembrando que mesmo a presidência de Obama impôs sanções para obrigar o seu país a aderir ao acordo internacional sobre o programa nuclear.
No entanto, Morteza Damanpak Jami reconhece que “Trump foi o pior [Presidente]: retirou-se do acordo nuclear, em 2018, agravou sucessivamente as sanções e promoveu inúmeras conspirações contra o Irão e o seu povo”.
“Se a Administração do Presidente eleito Biden mudar de atitude para connosco, se mudar o relacionamento e corrigir as politicas erradas seguidas pela Administração Trump e pelas anteriores, então prestaremos toda atenção [aos EUA]”, assegura.
Para isso, o primeiro passo de Biden “é regressar –frisa- ao JCPOA (Plano de Acção Conjunto Global, na sigla em inglês) sobre o nuclear e a total implementação do acordo”, recordando que só os EUA renunciaram ao plano, assinado em 2015 entre a República Islâmica do Irão e o designado P5+1 (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e ainda a Alemanha), com a participação da União Europeia.
O representante de Teerão deixa um conselho a Joe Biden: “se quiser conversar frente-a-frente com o Irão, o primeiro passo é corrigir o comportamento das administrações anteriores”.
“Até lá, o Irão não vai dar um passo para qualquer negociação bilateral”, assegura.”.
Fernando Gualtieri (CP 7889 A)