Não é muita a confiança que os bracarenses depositam nos dados divulgados diariamente pela Direccção Geral de Saúde (DGS) sobre a evolução da pandemia do Covid-19.
Com os dados da DGS desta quinta-feira na mão –e que davam conta de 98 infectados e sete vítimas mortais no concelho de Braga -, o PressMinho encontrou quem acredite convictamente que “aquela [Graça Freitas] da DGS está a mentir”.
“Só sete mortos?! Ela não está a dizer a verdade porque o António Costa não quer que se saiba que as coisas não estão a ser feitas como devem ser”, afirma um jovem, funcionário de uma empresa fornecedora de Grundig, agora em lay off (redução temporária de trabalho).
Há quem tenha dúvidas sim, mas sem duvidar da qualquer intenção sinistra. É o caso de uma idosa que não gostou do que acabara de ouvir.
“Acha que estão a mentir de propósito?!. Os números podem estar ‘enganados’ mas isso é porque eles [os hospitais] estão cheios de gente que já nem conseguem dar conta do recado”, atira, de voz coberta por uma máscara.
O dono do ‘super’ alinha em teorias da conspiração. “Os chineses mentem, os russos mentem, por que é que os portugueses tinham que dizer a verdade?!. Ninguém quer saber da verdade pra nada; o que querem é o dinheirinho deles no bolso ao fim do mês”.
“Ouvi dizer que os números não estão certos porque não chegam a tempo de os ‘mandar’ para o computador”, insiste a idosa, que logo a seguir ouve atirada do dono: “minha senhora, isto é só negócio para as farmacêuticas. Que lhes importa que alguns morram se ganham milhões a vender Benuron aos outros?!”.
E com ironia e um dedo no ar, sublinha: “o que eles andam a dizer é mentira, é mentira!”.
“E máscaras e gel desinfectante…”, diz o jovem, aparentemente sem perceber a ironia, aparentemente dividido entre as teorias do dono e a da idosa.
E num repente, como se lembrasse de um argumento indestrutível avança cheio de convicção: “Se mentissem, o Marcelo já tinha vindo à televisão denunciar e pedir explicações”.
“Pois claro! O Presidente gosta das coisas preto no branco”, concorda a idosa.
“O presidente, o presidente…Esse o que quer é aparecer na televisão por ‘dá cá aquela palha’ e de dar beijinhos”, remata o dono, não sem antes ouvir o jovem a desabafar: “temos que acreditar em alguém…”.
A conversa acabou como começou, rapidamente, com o dono a repor os legumes, o jovem a ir à sua vida, a idosa a segui-lo porque “está a fazer-se tarde para andar na rua”, e o jornalista a meter o papel no bolso sem ter tido tempo para ‘reportar’ que, além das sete vítimas mortais e 98 ‘positivos’ de Braga, em Famalicão registavam-se 44 casos, em Guimarães 41, Barcelos 15, Amares 6, Fafe e Esposende 5 cada, Póvoa de Lanhoso, 4. Total: 218.
Mais 19 casos em Viana do Castelo, 8 nos Arcos de Valdevez, 5 em Ponte de Lima e 4 em Caminha. Total: 35.
E, lá vai o jornalista, sem poder ainda explicar que quando os casos são inferiores a três, como acontece em Vila Verde (2 casos), “por motivos de confidencialidade, os dados não são reportados”, diz a DGS.
EXPLICAÇÃO DE RICARDO RIO
A discrepância nos dados levou Ricardo Rio, presidente da Câmara de Braga, a recorrer, esta quarta-feira, ao facebook para analisar a “alguma estranheza” que causa no cidadão comum a discrepância existente entre os números de infectados avançados localmente pelas autarquias e outras entidades, e a lista divulgada pela DGS.
“A explicação é só uma: os dados territorializados da DGS têm um delay [atraso] de alguns dias face à realidade”, escreve naquela rede social, confessando, todavia, que “não consigo perceber a razão operacional para este desfasamento”.
“Mas, diga-se em abono da verdade que ele é irrelevante. Todos gostamos de conhecer a realidade que nos é mais próxima mas a informação só é útil se servir para qualquer tipo de acção consequente”, acrescenta.
“Pelo contrário, quando desagregamos excessivamente a informação (à freguesia, por exemplo, como chegou a circular nas redes sociais num certo momento), uma mistura de medo e curiosidade mórbida pode dar azo a atitudes menos reflectidas. Ainda chegará o tempo em que alguém defenda que as portas das casas onde estejam a residir pessoas infectadas sejam assinaladas em conformidade!!!… “, alerta o autarca.
“Não há por que duvidar que a DGS esteja a apresentar o número real de casos confirmados”, vinca.
Fernando Gualtieri (CP 1200)