A missão católica de Nangololo, no norte de Moçambique, onde o Centro Missionário da Arquidiocese de Braga mantém um projecto de cooperação, foi em Outubro novamente atacada, ocupada e destruída pelos grupos armados do Daesh que estão a espalhar o terror e a morte na província de Cabo Delgado.
Em declarações esta segunda-feira ao jornal Público, Sara Poças, do Centro Missionário da Arquidiocese de Braga, explica que desde os ataques na Semana Santa que já não havia missionários no distrito de Muidumbe por razões de segurança, onde se situa aquela que é a segunda mais antiga da diocese de Pemba.
O Centro Missionário bracarense mantém um projecto de cooperação com a diocese de Pemba e tem a decorrer uma campanha de solidariedade com a província moçambicana ‘Juntos por Cabo Delgado’.
Já em declarações à Fundação AIS, uma ONG dependente do Vaticano, o padre Edegard Silva conta que no dia 30 de Outubro, “os terroristas voltaram a ocupar o distrito de Muidumbe”.
O sacerdote brasileiro, citado pela agência Ecclesia, conta que “homens armados e violentos” tomaram conta, por vinte dias, de toda área da missão, acrescentando que a chegada dos terroristas levou à “debandada geral da população”.
“Toda população foge para o mato. Nós refugiámo-nos em Pemba”, diz, à AIS, o missionário saletino.
O sacerdote conta que toda aquela área esteve “debaixo do controle dos terroristas”, que apenas abandonaram o espaço da missão católica na passada quinta-feira.
MASSACRES
Foi precisamente nessa altura que tomaram conhecimento real do que tinha acontecido, refere Edegard Silva.
“Está tudo destruído. A casa onde residíamos transformou-se em cinzas. Todos os equipamentos foram queimados. O templo, onde fica a sede da paróquia, destruído… A sala da rádio comunitária queimada. A casa das irmãs destruída…”, relata o padre à fundação pontifícia.
O sacerdote assinala que os relatos que chegam a Pemba dão conta de um profundo sofrimento das populações face à violência dos ataques, havendo mesmo referência a “massacres”.
“Pelos caminhos, estão encontrando muitos corpos já em decomposição. As acções dos terroristas são violentas, muitas pessoas foram decapitadas, casas queimadas e derrubadas…”, descreve.
Na mensagem enviada à AIS, o padre Edegard Silva afirma viver-se “uma situação dramática”. Fala na “dor de um povo”. “Gente que continua sem localizar seus familiares. Pessoas que tiveram as suas casas queimadas. Muitas pessoas assassinadas. Fala-se de massacres e de 500 mil deslocados. Vidas e vilas destruídas.”
O missionário saletino apela à “solidariedade internacional” perante o cenário de guerra e de destruição, com a necessidade de “encaminhar hospedagem, comida, remédio, água, barracas, lonas… para 500 mil pessoas…”
Quinhentas mil pessoas é a estimativa dos deslocados em Cabo Delgado, em consequência dos ataques de grupos armados que reivindicam pertencer ao Daesh, o Estado Islâmico.
Segundo a AIS, estima-se que mais de duas mil pessoas já tenham morrido.
Fernando Gualtieri (CP 7889 A)