Portugal pode antecipar para antes de 2029 a meta dos 2% do PIB em despesas militares, anunciou Luís Montenegro ao lado de Mark Rutte, secretário-geral da NATO, mas este foi muito claro a dizer que isso não chega e que o esforço vai ter de se acentuar. E lembrou os navios russos que ameaçam as infra-estruturas submarinas em águas portuguesas.
O primeiro-ministro voltou a admitir, esta segunda-feira, depois de um almoço com o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, que Portugal pode antecipar para antes de 2029 a meta de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em despesas militares – o que corresponde a cerca de 700 milhões de euros adicionais ao orçamento da Defesa. Uma intenção insuficiente para o responsável máximo da NATO.
Luís Montenegro sublinhou a convergência com o PS neste objectivo de antecipação da meta e anunciou ainda que o Governo criou uma task-force com os ministérios da Defesa, Economia, Negócios Estrangeiros e Finanças, para estudar a melhor forma de atingir este objectivo. O neerlandês, no entanto, fez questão de sublinhar que isso “não será suficiente” para os desafios de segurança que se avizinham, como os navios russos que ameaçam as infra-estruturas submarinas em águas portuguesas.
“Quero dizer em nome do Governo português que estamos disponíveis para poder antecipar ainda mais o nosso calendário na trajectória de evolução do nosso investimento nesta área”, afirmou Luís Montenegro na conferência de imprensa realizada na residência oficial em São Bento, sem adiantar qual poderá ser a nova data ou a natureza dessas despesas.
“Isso dependerá muito daquilo que formos capazes de fazer internamente e temos, neste momento, uma task-force” que “está a finalizar o seu trabalho com vista a tornar mais atractivo e executável o projecto de reforço da nossa capacidade produtiva e industrial”, anunciou.
Mark Rutte, ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, tem estado a preparar os aliados para um novo objectivo que pode ultrapassar os 3% do PIB- Reforçou essa ideia em Lisboa, antes de voar para Madrid, onde fará o mesmo apelo, porque a Espanha é o terceiro pior classificado (Portugal é o sétimo).
“A NATO é forte hoje, mas para manter a NATO forte, temos de nos continuar a adaptar”, disse. Depois repetiu o seu mantra: “Para garantir a nossa segurança no futuro, precisamos de aumentar o nosso esforço agora e isso significa gastar mais na nossa defesa. Reconheço os aumentos recentes da despesa de Portugal. Mas também sabemos que o objectivo de 2%, estabelecido há uma década, não será suficiente para responder aos desafios de amanhã”.
Sabendo que Lisboa é a capital europeia mais distante de Moscovo, Mark Rutte deu exemplos de ameaças russas directas a Portugal: “Navios russos e bombardeiros de longo alcance ameaçam a costa portuguesa e as infra-estruturas críticas submarinas que a Rússia tem em vista”.
O maior elogio que Rutte fez a Portugal foi ao Centro de Experimentação Operacional da Marinha, localizado em Tróia, e “que ajuda os aliados a testar e a experimentar novas tecnologias, incluindo para melhorar a resiliência das infra-estruturas de energia e comunicações”.
Na sua intervenção, numa conferência de imprensa sem direito a perguntas, Luís Montenegro enfatizou a necessidade de desenvolver a indústria de material militar, para a Europa não ficar dependente de fornecedores externos, referindo-se aos Estados Unidos.
“Se não o fizermos, só nos resta uma alternativa: comprar a quem produz estes equipamentos. Ao fazê-lo cometemos dois erros: se ficarmos nas mãos de entidades externas à nossa aliança e ao espaço europeu, ficamos mais dependentes e, portanto, sempre sujeitos à boa vontade desses parceiros e, ao mesmo tempo, não aproveitamos para tornar a nossa economia mais dinâmica, para gerar mais emprego e valor”, disse.
“ESFORÇO CONSIDERÁVEL”
Montenegro ainda insistiu que, “no conjunto os 23 Estados-Membros da União Europeia que fazem parte da NATO já investem mais de 2% do seu produto na defesa”, embora Portugal prejudique essa estatística com os seus 1,48% do PIB em despesa militar contabilizada pela Aliança. Também diz que a decisão de aumentar as despesas não é uma decorrência das eleições americanas, deixando implícito que esta não é uma resposta à chantagem de Donald Trump.
A revisão das metas da NATO obriga um pequeno país como Portugal a um esforço considerável: para chegar aos 3%, o orçamento do Ministério da Defesa precisaria de um acréscimo equivalente à compra de sete submarinos por ano (3.400 milhões euro).
Neste quadro, as despesas com as Forças Armadas portuguesas teriam de passar dos 3.000 milhões previstos em 2025 para 6.400 milhões de euros anuais (a que se somariam os 1600 milhões de euros da GNR e das pensões dos militares que a NATO aceita contabilizar). Ou seja, mais do dobro.
Com Expresso