A evocação da vida e obra de Álvaro Cunhal, que decorreu em Braga, foi motivo para abordar não só as transformações profundas da Revolução de Abril e “a resistência ao processo contrarrevolucionário que se lhe seguiu”, mas também olhar para uma cidade que “foi terra de profunda resistência à ditadura” e dos ataques de que os comunistas foram objeto no Verão Quente de 1975.
A iniciativa, realizada esta segunda-feira (10 de novembro), dia em que se assinalou o 112º aniversário do nascimento do dirigente histórico do PCP – e “num momento em que se prepara um brutal ataque contra os direitos dos trabalhadores” -, não acontece por acaso em Braga.
Belmiro Magalhães, da Comissão Política do Comité Central do PCP, explicou que a escolha se deveu ao facto de Braga, a Cidade dos Arcebispos, ter sido “terra de profunda resistência à ditadura, com inúmeras lutas populares travadas”.
O responsável pela Direção da Organização Regional de Braga dos comunistas deu como exemplo a greve na então Grundig, em fevereiro de 1972, durante a qual os 1800 operários paralisaram a fábrica e, após três dias, conseguiram um aumento salarial de 75%. A atividade do grupo dos Democratas de Braga, que juntou destacados intelectuais antifascistas como Victor de Sá, Humberto Soeira ou Lino Lima, foi outro exemplo.
Também o secretário geral do PCP, Paulo Raimundo, recordou a “frenética atividade desestabilizadora de difusão de mentira e calúnias contra as forças democráticas mais consequentes e progressistas, particularmente contra o PCP”. Lembrou “os atentados bombistas, assaltos, saques, espancamentos” e as cerca de “600 ações terroristas, de que é exemplo, um de entre muitos, o assalto ao Centro de Trabalho do PCP aqui mesmo em Braga”, a 10 de agosto de 1975.
A sala do Museu dos Biscainhos ouviu Belmiro Magalhães dizer que o ataque e a destruição da sede comunista, no centro da Cidade dos Arcebispos, bem como outras sedes no Minho, fossem elas dos comunistas ou de forças democráticas, obedecia a um plano: “O plano tinha como orientação fundamental manipular as populações para participarem em massa em ações terroristas contra o PCP.”
CÓNEGO MELO, “PEDRA CHAVE DA REAÇÃO”
“O cónego Melo, que dispensa apresentações, era a pessoa indicada para o efeito pois controlava tudo na diocese de Braga. O cónego Melo, que mereceu uma estátua mais tarde por iniciativa da Câmara sob presidência PS, foi uma pedra-chave de toda esta movimentação reacionária”, afirmou.
Belmiro Magalhães lembrou também as intervenções de Álvaro Cunhal no seu primeiro comício em Braga. Na altura, o secretário geral do partido sublinhava o respeito do PCP pelos crentes e pelo culto, “até porque operários católicos e não católicos são igualmente explorados”.
O discurso de Cunhal sobre os direitos dos trabalhadores na primeira Festa da Alegria, realizada em Braga, em 1978, serviu para Belmiro Magalhães retomar as lutar dos trabalhadores de hoje, para o acontece agora nos sectores têxtil e calçado, sobretudo no Vale do Ave, e para o lay-off na Bosch.
Ligando o pensamento e ação de Álvaro Cunhal à situação do país de hoje, Paulo Raimundo apelou à resistência: “Resistir e não ficar à espera, é este o desafio que se coloca a todos, a todos os trabalhadores, ao povo, à juventude.”
“Uma resistência e uma luta que teve no sábado passado um momento alto com a Marcha Nacional convocada pela CGTP-IN que encheu ruas, avenidas e praças do centro de Lisboa”, evocou, para de seguida frisar que “essa luta terá de continuar a desenvolver-se na luta reivindicativa de todos os dias e na Greve Geral de 11 de Dezembro contra o Pacote Laboral, pelos salários, os direitos e os serviços públicos”.
A terminar, Paulo Raimundo salientou que “os povos necessitam de partidos firmes, convictos, corajosos e confiantes”.
“Só tais partidos estão em condições de fazer frente ao capitalismo no mundo atual. Aqui estamos, aqui está o PCP, esse partido firme, convicto, corajoso e confiante (…) o partido da luta antifascista, o partido de Abril, o partido da resistência e da luta contra a reação, o partido do futuro. Este Partido de sempre e para sempre de Álvaro Cunhal.”
Fernando Gualtieri (CP 7889)







