O candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo afirmou esta sexta-feira, em Guimarães, que a Constituição não reservou a Presidência da República para os partidos e afirmou que quer construir “pontes” com todo o espetro político, incluindo o Chega, mas negou qualquer “almoço secreto” com André Ventura.
Em declarações aos jornalistas, à margem de uma visita ao supercomputador Deucalion, Gouveia e Melo defendeu que a política não é “uma casta ou um campo reservado” para aqueles que fizeram o seu percurso desde as juventudes partidárias.
“Nós estamos numa democracia e não há nenhuma casta política que tome conta da democracia, porque, senão, não era democracia (…). A Constituição não reservou a Presidência da República para os partidos”, referiu.
O ex-almirante reagia, assim, ao artigo que Cavaco Silva publicou esta sexta-feira no Expresso, em que defende que um bom Presidente da República tem de ter “uma boa dose” de experiência política.
Cavaco destacou ainda o respeito pela Constituição, a defesa da estabilidade política, a isenção e independência em relação às diferentes forças partidárias e às tensões entre Governo e oposição, a sobriedade, o não alimentar intrigas políticas em relação a quem quer que seja e o falar verdade aos portugueses.
“Revejo-me em algumas das qualidades e dos atributos que ele [Cavaco Silva] acha que são necessários a um Presidente da República, como independência, resiliência, coragem, determinação. Portanto, não me senti minimamente afetado pelo artigo. Relativamente a considerar a política uma casta ou um campo reservado a indivíduos que fizeram o seu percurso desde as juventudes partidárias, isso é que eu discordo completamente”, reagiu Gouveia e Melo.
Acrescentou que não está na corrida para discutir perfis, mas sim para ajudar a resolver os problemas que afetam o dia-a-dia dos portugueses, como habitação, educação, saúde, impostos ou incêndios.
Com ironia, Gouveia e Melo disse que estava à espera que o artigo fosse um apelo de ajuda e de congregação “à volta de um determinado candidato”, designadamente Luís Marques Mendes.
“Tenho pena, mas não vi o nome do candidato. O apelo devia ter sido mais claro. Não sei se o ex-presidente Cavaco Silva queria dizer que o candidato era o candidato do PSD, devia tê-lo dito de forma clara e não de forma disfarçada, e não de forma indireta”, disse ainda.
PONTES
Para Gouveia e Melo, os partidos “são importantíssimos para a democracia, mas têm de mudar a sua forma de estar na política.
“A forma de estar desses partidos e, ultimamente, o seu percurso, têm feito com que a população se afaste dos partidos políticos. Isso é mau para a democracia. Portanto, se os partidos não veem que têm que mudar, serão mudados de uma forma que não é a melhor para a democracia”, rematou.
“Interessa-me pontes com o Chega, com o PCP, com o Bloco de Esquerda, com o PS, com o PSD. Ou acha que um Presidente da República deve quebrar pontes com uma área do espetro político? Isso faz sentido? Não faz sentido. Nós devemos fazer pontes com todo o espetro político”, referiu aos jornalistas Gouveia e Melo, à margem de uma visita ao supercomputador Deucalion, em Guimarães.
Gouveia e Melo confirmou que teve um almoço com André Ventura, relativamente ao qual recusou a qualificação de secreto, mas quis sublinhar que ficou claro que o posicionamento do Chega e do seu presidente é “muito diferente” do seu.
ALMOÇO SECRETO
Na quinta-feira, o também candidato presidencial António José Seguro afirmou que a sua candidatura não nasceu da combinação com nada, nem num almoço secreto, referindo-se ao almoço do candidato presidencial Henrique Gouveia e Melo com André Ventura, que há dias também anunciou a sua candidatura a Belém.
“Que almoço secreto? Não há almoço secreto nenhum, tanto que eu admiti imediatamente que tinha almoçado (…). O segredo é uma imaginação de um ‘p’ pequeno de política, que é tentar encontrar uma intriga onde não existe”, reagiu Gouveia e Melo.
Acrescentou que almoça “com muita gente” e instou Seguro a divulgar a lista de todos os almoços e todos os jantares que teve e a dizer o que discutiu em cada um deles.
“Por uma questão de transparência, já que quer isso, que dê o seu primeiro passo”, desafiou.
Gouveia e Melo sublinhou que “as coisas são tratadas, muitas vezes, de forma privada, o que não significa que haja nada de mal lá dentro”.
“Isso faz parte do processo político (…). Eu, se calhar, estou também a construir pontos para um futuro em que terei de lidar com o maior partido da oposição. Portanto, qual é que é o problema? Levantar esse problema é o que eu digo, a política do ‘p’ pequeno”, apontou.
Contrapôs que o que quer é a política do ‘P’ grande, concentrada nas soluções para os portugueses.
Em relação ao anúncio da candidatura presidencial de André Ventura, Gouveia e Melo considera que André Ventura terá de explicar aos portugueses se quer ser primeiro-ministro ou se quer ser Presidente da República.
“Isso é uma contradição nos seus próprios termos, neste momento, mas isso é uma preocupação que não é minha, é do doutor André Ventura”, rematou.
Com Agências e Observador