O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou estar disposto a retirar forças ucranianas de zonas da região de Donetsk, no Donbas, ainda sob controlo de Kiev, com vista à criação de uma zona desmilitarizada no âmbito de um eventual acordo de paz com a Rússia. A notícia é avançada esta quarta-feira pelo jornal norte-americano ‘The New York Times’.
A proposta, apresentada aos jornalistas, constitui a posição mais explícita até ao momento de Zelensky sobre os diferendos territoriais no leste da Ucrânia, que têm bloqueado as negociações. O Presidente ucraniano sublinhou, no entanto, que só avançará se Moscovo aceitar retirar as suas forças de uma área equivalente em Donetsk. É essa a condição. Até agora, o Kremlin não manifestou disponibilidade para abdicar do controlo total da região.
Uma zona desmilitarizada em Donetsk consistiria numa faixa territorial sem a presença de tropas nem de armamento. Poderia incluir, também, observadores internacionais, independentes, para monitorizar a zona. O objetivo passa por reduzir os combates no terreno e criar condições para um cessar-fogo. Requer o consentimento das duas partes, Ucrânia e Rússia.
PLANO DE 20 PONTOS
A declaração coincide com a apresentação de um plano de paz revisto de 20 pontos, preparado pela Ucrânia em coordenação com os Estados Unidos da América (EUA), após semanas de negociações.
O documento, divulgado pelo jornal ‘Kyiv Independent’, substitui um plano inicial de 28 pontos e foi entregue à Rússia esta quarta-feira, 24 de dezembro. Terá de ser assinado pelos líderes da Ucrânia, Rússia, EUA e Europa.
Segundo Zelensky, citado pelo jornal ucraniano, o novo texto estabelece o reconhecimento da soberania da Ucrânia, um acordo de não-agressão vinculativo entre Kiev e Moscovo; garantias de segurança asseguradas pelos EUA, países da NATO e Estados europeus signatários; a manutenção das Forças Armadas ucranianas com 800 mil efetivos em tempo de paz; um quadro de reconstrução económica e desenvolvimento, estimado em cerca de 800 mil milhões de dólares (678 mil milhões de euros); e o compromisso de adesão da Ucrânia à União Europeia (UE), com calendário ainda por definir.
O cessar-fogo entraria em vigor imediatamente após a assinatura do acordo, ficando a sua aplicação dependente de ratificação parlamentar ou referendo na Ucrânia, a realizar num prazo máximo de 60 dias.
PONTOS CRÍTICOS
Persistem divergências em dois dossiês centrais: o controlo da central nuclear de Zaporíjia e o futuro das regiões do Donbas, em guerra desde 2014. Sobre o primeiro ponto, a central (que é a maior da Europa) está ocupada pela Rússia, e a Ucrânia ofereceu-se para gerir o complexo juntamente com os EUA.
No que respeita ao segundo ponto, os territórios ocupados de Donetsk e Luhansk (Donbas, no leste), e Zaporíjia e Kherson (no sul), o plano prevê o reconhecimento da linha de frente existente à data da assinatura como linha de separação de facto, com a colocação de forças internacionais de supervisão.
As tropas russas controlam cerca de 20% do território ucraniano. A Rússia reivindicou para si, já em setembro de 2022, Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporíjia. Além destes quatro territórios — dos quais apenas ocupa na totalidade Lugansk —, Moscovo anexou, em 2014, a península da Crimeia.
Zelensky confirmou que Washington procura fórmulas intermédias, incluindo zonas desmilitarizadas ou zonas económicas especiais, mas reiterou que a Ucrânia não aceita uma retirada unilateral das suas forças.
No acordo tampouco há menção ao desejo de Kiev fazer parte da Aliança Atlântica (NATO), segundo o ‘Kyiv Independent’.
ENCONTRO COM TRUMP
Zelensky acha que Moscovo não tem grande margem para recusar a proposta por causa do Presidente norte-americano.
“Eles não podem dizer a Trump: ‘Somos contra uma solução pacífica’. Se eles tentarem obstruir tudo, o Presidente Trump teria de nos armar fortemente, além de impor todas as sanções possíveis contra eles. Estamos significativamente mais perto de finalizar os documentos”, disse, em declarações aos jornalistas esta quarta-feira.
Volodymyr Zelensky pediu ainda uma reunião com o homólogo americano para resolver os aspetos mais delicados de um futuro acordo de tréguas, avança a agência noticiosa Reuters.
“Estamos prontos para uma reunião com os Estados Unidos para abordar questões sensíveis. Assuntos como questões territoriais devem ser discutidos ao nível dos líderes”, disse o Presidente ucraniano, em declarações divulgadas pelo seu gabinete.
Com Expresso e Kyiv Independent






