Este verão, a Europa voltou a registar noites tropicais em números recorde, com temperaturas noturnas que não descem abaixo dos 20ºC em várias regiões do continente.
Segundo dados do serviço Copernicus da União Europeia (C3S), 2024 foi o ano com o segundo maior número de noites tropicais de sempre, um fenómeno diretamente ligado às alterações climáticas.
Uma noite tropical é definida como aquela em que a temperatura mínima não desce abaixo dos 20ºC. Ao longo das últimas décadas, este tipo de noites tem aumentado de forma consistente, com um ritmo de aquecimento mais do dobro da média global nos últimos 30 anos, alerta o C3S.
O sudeste europeu foi particularmente impactado. Em algumas áreas do sul da Grécia, registaram-se até 55 noites tropicais a mais do que a média histórica. Itália enfrentou até 50 noites adicionais, enquanto a Turquia ocidental contabilizou 40 noites tropicais extra.
Outras regiões, como Croácia, Sérvia, Hungria, Roménia e Bulgária, também registaram até 35 noites tropicais acima do normal. Já em junho e início de julho de 2025, várias zonas europeias experienciaram um número superior de noites tropicais comparativamente ao período habitual.
Em Espanha, por exemplo, registaram-se 24 noites tropicais em junho, 18 acima da média para esse mês.
O aumento das noites tropicais está ligado, em parte, à onda de calor marinha no Mediterrâneo, que levou zonas costeiras a registarem entre 10 e 15 noites tropicais, apesar de normalmente não experimentarem este fenómeno em junho.
Na Escandinávia, um estudo da World Weather Attribution revelou que a Suécia sofreu 10 noites tropicais consecutivas devido a uma prolongada onda de calor nórdica.
O estudo afirma que “as temperaturas noturnas foram cerca de 2ºC mais altas do que teriam sido sem as alterações climáticas causadas pelo ser humano, e o fenómeno tornou-se aproximadamente 33 vezes mais provável.”
O relatório projeta ainda que, com mais 1,3ºC de aquecimento global, as temperaturas noturnas deverão aumentar mais 1,7ºC, tornando eventos como os de 2025 sete vezes mais prováveis.
DESCONFORTO E INSÓNIA
As noites tropicais não se limitam a causar desconforto. Dormir com temperaturas elevadas pode levar a insónias e suor excessivo, quando lençóis aderem à pele e abrir janelas não traz alívio.
Mais importante, o calor noturno prolongado representa um risco para a saúde, pois o corpo não consegue recuperar adequadamente do stress térmico diário. Os sintomas incluem aumento da frequência cardíaca, tonturas e, em casos graves, insolação.
De acordo com estimativas recentes, a Europa registou cerca de 47 700 mortes relacionadas com o calor em 2023 e 61 700 em 2022, reforçando a urgência em lidar com os impactos do aquecimento global.
Com Executive Digest