Uma mulher de 42 anos foi descoberta pelas autoridades polacas, em julho passado, encerrada dentro da casa dos seus pais, no sul da Polónia. Ao que tudo indica Mirella esteve presa dentro da habitação desde os 15 anos de idade.
Foi um telefonema de um vizinho que ‘salvou’ Mirella. Segundo testemunhas e, tal como as autoridades também relataram, a mulher foi encontrada num estado de saúde extremamente frágil. “Ela estava a poucos dias de morrer”, disseram os médicos.
O telefonema fez com que a polícia se deslocasse até à habitação. Já no local, e apesar da insistência da mãe de Mirella para que não entrassem, as autoridades encontraram a mulher, agora com 42 anos, sentada numa poltrona, sem conseguir aguentar-se de pé, tendo sido, de imediato, levada para um hospital.
MULHER INVISÍVEL
“Ela estava num estado péssimo, com dificuldades em andar. Não conseguia descer as escadas. Era óbvio que estava a sofrer devido a um trauma horrível”, relataram os vizinhos.
Mirella não teve contacto com o mundo exterior, “não tinha roupas próprias, identificação, era como se não existisse”.
“Durante 27 anos, Mirella foi invisível para o sistema. Ela nem sequer tinha um documento de identificação, estava escondida do mundo. A mãe nunca pediu para que um médico fosse a casa”, disse o procurador responsável pelo caso, que está a ser investigado por “possível abuso psicológico e físico”.
Já no hospital, a mulher terá revelado que “não saía de casa há mais de 20 anos” e que esteve presa num quarto.
“Ela estaria morta dentro de dias se continuasse naquele estado crítico”, referiu o diretor do Serviço Médico de Emergência de Katovice ao diário polaco Fakt, acrescentando que a mulher tinha uma infeção grave em ambas as pernas.
Mirella “nunca foi ao dentista, nem a um cabeleireiro”. “Não sabemos que tipo de dieta tinha, mas o seu cabelo e os dentes estão em muito mau estado, o que ameaça o seu quadro de saúde complexo”.
O meio de informação polaco falou ainda com vizinhos, que contaram que conheceram Mirella quando era ainda uma criança. Mas, de um dia para o outro, desapareceu.
O CASO
Mirella desapareceu com 15 anos, em 1998. Os vizinhos, que a conheciam, começaram a questionar-se onde estaria a então adolescente, uma vez que os pais continuavam em casa.
Assim, questionaram os pais acerca do paradeiro da filha e as respostas que receberam não foram coerentes, isto porque os pais iam contando versões diferentes ao longo do tempo. Disseram, por exemplo, que Mirella tinha desaparecido, que havia sido adotada e entregue à sua família adotiva ou então que tinha sido “sequestrada” ou que tinha “fugido de casa”.
“Não nos ocorreu questioná-los”, confessaram alguns dos vizinhos, explicando que até agora não conheciam todos os detalhes, embora o caso sempre tenha suscitado dúvidas.
“Lembro-me que eu e a Mirella costumávamos brincar juntas em frente ao prédio onde eu vinha visitar a minha avó nas férias”, contou outra testemunha ao diário polaco, algo que acabou por terminar uma vez que a então jovem “desapareceu repentinamente em circunstâncias misteriosas”.
Após descobrirem Mirella, as autoridades começaram a investigar o seu passado, tendo tido acesso aos registos da Escola Secundário Kochanowski nº 1, que confirmaram que a mulher tinha frequentado a escola durante menos de meio semestre.
“Encontramos um apontamento no registo de estudantes que indicava que aquela pessoa tinha frequentado a nossa escola. Iniciou os seus estudos no dia 1 de setembro de 1997, tendo sido removida do registo dos alunos no dia 6 de janeiro de 1998, com uma nota que dizia: ‘Removida a pedido dos pais'”, revelou a atual diretora da escola, Jolanta Daniluk.
E, a partir desse momento, Mirella ficou “invisível”.
Desde julho passado – altura em que Mirella foi encontrada, as autoridades investigam o caso para apurar os factos.
“A vítima declarou que não saía do apartamento há 27 anos e não conseguia explicar, de forma lógica, o porquê, tendo acrescentado que não era mantida em cativeiro”, referiu um procurador do Ministério Público do Distrito de Chorzów. Mirella disse ainda que “nunca consultou um médico e não tinha um plano de saúde”.