O comício do Bloco de Esquerda (BE) encheu, esta terça-feira à noite, o auditório do Theatro Circo, pelo que foi necessário improvisar um segundo comício na rua para quem não conseguiu lugar. Pela mesma razão, foi anunciado que na quinta-feira às 18h00 se realiza um novo comício no coreto da Avenida Central.
De de keffiyeh aos ombros, símbolo da resistência palestiniana, Mariana Mortágua, depois de evocar a memória de Pepe Mujica, o ex-presidente uruguaio falecido no mesmo dia, trouxe o tema do trabalho por turnos, que tem sido uma das prioridades da campanha.
“É o símbolo de um país que leva a vida a correr, que não tem fim de semana, que trabalha à noite, que trabalha, trabalha, trabalha e não tem dinheiro para viver como quer”, afirmou Mariana Mortágua.
Em resposta a “essas vidas contra o relógio”, Mariana lembrou os compromissos do Bloco com o aumento do subsídio de turno para 30%, com as folgas e descansos entre turnos e com a redução da idade da reforma para quem tenha uma carreira profissional em turnos.
Por querer um futuro diferente, o Bloco propõe “mudar de vida aqui”, e isso significa “mudar o país”. Essa é “a única forma de combater a extrema-direita, que tem um plano de dividir para reinar”. É “usar o egoísmo como forma de organização da sociedade”.
Mas Mariana Mortágua admite que “o Bloco também tem um plano”. Se o plano da direita é dividir, o plano do Bloco é “juntar, juntar, juntar”. É “olhar para as pessoas e ver o que nos une em vez do que nos divide. O que nos faz um povo”. Nessa ânsia, o partido junta todas as gerações. E “é por isso que Francisco Louçã é candidato por Braga”.
É “quando o ataque é mais forte” que “temos a obrigação de ir buscar todos e todas as que já votaram no Bloco de Esquerda, as que já foram deputadas pelo Bloco de Esquerda”. O voto do Bloco é “um voto solidário”, em que as gerações votam num futuro melhor para toda a gente.
HUMANIDADE ZOMBIE
Já Francisco Louçã, passando às razões para votar no Bloco, o fundador do partido sublinhou que sem ser Mariana Mortágua, nenhum líder político “falou da Europa nem da responsabilidade que a Europa tem em Gaza”. “Fome, mortes de jornalistas e de profissionais de saúde, crianças assassinadas, são a denúncia de um genocídio na Palestina.”
“Não aceitamos uma humanidade zombie, um desconhecimento, uma ignorância, uma ocultação, uma cumplicidade”, afirmou Francisco Louçã.
“Gaza é a nossa gente, e o reconhecimento do Estado da Palestina, o fim do embargo, e a condenação dos crimes de guerra de Netanyahu são o único ponto de partida que a Europa pode ter nesta tragédia”, frisou.
Louçã salientou que as eleições serão determinadas pelas esquerdas e fez dois apelos ao voto. O primeiro foi dirigido aos eleitores de esquerda: “Quem se cruza com o Bloco de Esquerda sabe o que lhes deu o Bloco de Esquerda”.
O fim do corte das pensões, a redução das propinas, o passe social nas áreas metropolitanas, o princípio das carreiras longas na Segurança Social, o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, a paridade entre homens e mulheres na política, e muitas outras medidas que construíram o legado do Bloco de Esquerda. Mas a primeira mudança que o Bloco de Esquerda fez aprovar no parlamento, lembrou ainda, foi a transformação da violência doméstica num crime público.
Foi uma medida “que salvou milhares de vidas e protegeu milhares de mulheres e crianças”, e que continua a proteger muitas das pessoas que são ameaçadas pelo maior flagelo da criminalidade no nosso país.
“Juntámos o povo que era preciso”, lembrou o fundador do partido, que acrescenta uma segunda razão para o voto no Bloco de Esquerda no dia 18 de maio: “O voto no Bloco é o que garante e que sabe o que quer”, disse.
PS DESCONHECIDO
“Em contrapartida – acrescentou – o voto no PS não garante um governo do PS, por uma razão muito evidente: ninguém sabe o que quer o PS”. “Alguém percebe o que quer o PS na imigração? Aprovou uma lei de que agora discorda, decidiu uma política e agora quer outra, mas ninguém percebe qual.”
“No caso da habitação, é o mesmo, não se sabe o que quer o PS, a não ser manter tudo como está e esperar por um futuro milagroso, opondo-se, entretanto, a qualquer medida essencial no curto prazo”, afirmou Louçã, acrescentando que “ao afirmar que concorda com a AD sobre habitação, o PS está a dizer aos seus eleitores que não vale a pena votar nele para resolver o problema mais importante para os jovens e para muitas das pessoas que vivem em Portugal”.
“É esse o paradoxo: o PS pede votos que podem servir para apoiar um governo da AD ou políticas na AD num Governo PS”, acrescentou, para concluir que “os eleitores socialistas que votarem no Bloco garantirão que haverá um governo para aplicar um teto às rendas e para uma política de esquerda na saúde ou nos salários e pensões”.
Na imigração, na economia, nos direitos sociais, na habitação, “não sabemos o que o Partido Socialista quer”. E quem vota no Partido Socialista, vota também para um governo da AD apoiado pelo Partido Socialista, por outro lado, “pedir o apoio da AD para um governo do Partido Socialista é trair os seus eleitores”.
A concluir, Louçã apresentou o seu objetivo eleitoral: “No domingo tiraremos deputados ao Chega e à AD, mas iremos mais longe, esta campanha pela liberdade pode e deve dar ao Bloco mais votos do que à Iniciativa Liberal em Braga.”
Fernando Gualtieri (CP7889)