A preservação dos ecossistemas de montanha deve integrar “uma estratégia para proteger a água” e o seu abastecimento às cidades, nomeadamente a partir da Peneda-Gerês, defende uma investigadora da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC).
“Deve haver uma preocupação com a preservação destes ecossistemas de montanha e com a preservação das atividades que favorecem a sua resiliência aos incêndios como parte de uma estratégia de proteger o nosso recurso hídrico e vital que é a água”, alertou Joana Nogueira.
Quando os ecossistemas são afetados pelo decréscimo de atividades tradicionais, como tem acontecido no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), ficam com a biodiversidade menos protegida e mais vulneráveis a incêndios, podendo afetar o abastecimento de água, não só na região como nas cidades.
“Esse abastecimento pode ficar afetado, com custos mais elevados, de tratamento ou para assegurar o abastecimento. Fica afetado na sua qualidade e quantidade”, asseverou a professora, que tem estudado o papel das comunidades que vivem na Peneda-Gerês e o papel desempenhado na “preservação da integridade e diversidade dos ecossistemas”, a propósito do incêndio que começou a 26 de julho no PNPG, em Ponte da Barca.
De acordo com Joana Nogueira, esta questão “é importante mesmo para quem não vai visitar o Parque Nacional”, embora seja “pouco compreendido pela sociedade”
“As montanhas, como as serras da Peneda, do Gerês, a serra Amarela, todas as serras que constituem o PNPG, funcionam como sistemas de captação de água que dependem de haver aqui esta paisagem equilibrada, esta paisagem com elevada biodiversidade e com agricultura e com a presença humana”, avisa a docente.
No fundo, tudo isso “assegura que se mantenha o solo, a vegetação e que a água se infiltre e continue a fluir”.
“No futuro, vamos ter cada vez mais escassez de água e isto é um serviço de ecossistema de regulação em que a água que chega pelo rio Cávado a Braga e a água que chega pelo rio Lima, a Viana do Castelo, vem dos sistemas montanhosos”, vincou.
Com incêndios como o que deflagrou a 26 de agosto e esteve ativo até domingo, aquele solo “fica vulnerável, fica exposto, ficam as raízes destruídas” e com as chuvas e ventos “perde-se solo”.
Tal implica menos vegetação para reter a água quando chover, e isso implica “menos água para alimentar os rios e para esses rios alimentarem as nascentes e o abastecimento de água das cidades”, destaca.
“Isto para não falar da qualidade da água que temos nas nossas casas, da água potável. É muito importante, está mais que demonstrado por vários estudos em Portugal, que a redução da população das montanhas e o abandono agrícola e o abandono pastoril estão relacionados com o incremento de incêndios e com o incremento de maior risco de incêndios”, sublinha.
O PNPG abrange os distritos de Braga (concelho de Terras de Bouro), Viana do Castelo (concelho de Melgaço, Arcos de Valdevez e Ponte da Barca) e Vila Real (concelho de Montalegre), numa área total de cerca de 70.290 hectares.