O INAC – Instituto Nacional de Artes do Circo, em Famalicão, acusa o Ministério da Educação de discriminar a formação superior nas Artes do Circo ao não a reconhecer. Considerado “um pilar fundamental” no desenvolvimento das artes do circo em Portugal, o instituto que, recebe anualmente meia centena de alunos de todo o mundo, apela a um reconhecimento “urgente”.
Em comunicado, o instituto conta que “tem sofrido alguns contratempos nos últimos meses”, o mais tem a ver com o Ministério da Educação e a dificuldade de reconhecer a formação superior nas Artes do Circo.
Mas não só. No início do abril, o INAC viu-se obrigado a deixar as instalações no Central Park devido ao “aumento absurdo da renda mensal”, situação que foi ultrapassada graças à “intervenção decisiva” do presidente da Câmara de Famalicão, o social-democrata Mário Passos, que “mobilizou esforços junto da administração do Central Park, que respondeu positivamente ao pedido”, na pessoa do empresário Mário Ferreira.
O INAC, inicialmente idealizado pelo casal de artistas Bruno Machado e Juliana Moura e mais tarde fundado pelos dois juntamente com André Borges, é considerado “um pilar fundamental” no desenvolvimento das artes do circo em Portugal.
“Desde a sua fundação, o INAC não só impulsionou a produção e a criação artística, como também desempenhou um papel decisivo na estruturação e profissionalização do setor circense em território nacional”, refere Bruno Machado.
Citado no comunicado, o responsável destaca que “o INAC recebe anualmente mais de 50 jovens artistas de circo de várias partes do mundo, que procuram formação profissional e encontram no Norte de Portugal um verdadeiro lar para o seu desenvolvimento criativo. Este constante fluxo de artistas internacionais não só contribui para o enriquecimento do panorama artístico português, como também posiciona Portugal no mapa europeu do circo contemporâneo”.
FALTA DE DIÁLOGO
Ainda segundo Bruno Machado, o impacto do INAC torna-se evidente quando analisamos a programação de festivais e estruturas como o Vaudeville Rendez Vous, o Trengo, o Festival Imaginarius, o CÚPULA Circus Village Festival a MAR em Sines, estruturas de acolhimento e residências artísticas e ainda os Teatros em Portugal.
“A grande parte dos projetos que hoje circulam nestes espaços e que são de produção Nacional são protagonizados por ex-alunos do INAC, o que revela claramente o papel da instituição na renovação e fortalecimento do setor” em território Nacional, afirma.
Além disso, o INAC encontra-se atualmente a desenvolver aquele que poderá ser o projeto da primeira licenciatura em circo em Portugal — um objetivo moldado ao longo de dez anos de trabalho efetivo, já que a formação oferecida pelo INAC segue padrões muito próximos dos das universidades e escolas superiores de circo na Europa.
No entanto, Bruno Machado denuncia que, em Portugal, devido à falta de diálogo, à imensa burocracia e ao desconhecimento generalizado por parte do Estado português sobre a especificidade da arte circense, este processo torna-se praticamente impossível e extremamente penoso.
RECONECIMENTO URGENTE
“As artes precisam de ser valorizadas, e Portugal precisa urgentemente de apoiar o INAC na concretização da primeira licenciatura de circo no país”, sublinha Bruno Machado. Este apoio torna-se ainda mais crucial num momento em que a Europa atravessa uma crise profunda — momentos em que a cultura e as artes estão entre os setores mais afetados”, diz.
Bruno Machado reforça o apelo a uma mudança urgente por parte do Governo português. Para ele, o ensino do circo contemporâneo deve ser reconhecido como parte integrante da oferta educativa e cultural do país, com acesso a apoios e financiamentos adequados que garantam a sua sustentabilidade.
“Não estamos a falar apenas de arte, mas de educação, cidadania e inovação. É preciso compromisso político para assegurar que Portugal continua a ser uma referência no circo contemporâneo a nível internacional”, conclui.
Fernando Gualtieri (CP7889)