O presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, expressa o seu profundo pesar pelo falecimento de Nuno Portas – “personalidade que influenciou decisivamente várias gerações de arquitetos, urbanistas, académicos e decisores políticos e cuja relação com Guimarães moldou uma parte essencial da história contemporânea do seu território” –, apresentando à sua família as mais sentidas condolências.
Em nota desta segunda-feira, o autarca lembra que Nuno Portas, o arquiteto de formação, o “urbanista de vocação”, professor e o “pensador das cidades”, esteve “profundamente ligado a Guimarães durante mais de três décadas”, enquanto consultor da Câmara Municipal e “figura-chave na definição de políticas públicas para o território”.
Participou na elaboração das normas provisórias do Plano Diretor Municipal no início dos anos 1980 e orientou, a partir daí, o processo de construção do primeiro PDM de Guimarães, aprovado em 1994 – um dos primeiros em Portugal. É neste quadro que nasce, em 1983, o Gabinete do Centro Histórico, com o qual Nuno Portas colaborou ativamente.
Enquanto Secretário de Estado da Habitação e Urbanismo (1983-1985), instituiu os Programas de Reabilitação Urbana, em resposta à crise habitacional e ao envelhecimento dos centros urbanos.
“O Gabinete Técnico Local de Guimarães seria um dos primeiros a ser criado, e rapidamente se destacou como modelo nacional de reabilitação urbana – ainda hoje amplamente citado como exemplo de regeneração integrada”, recorda o autarca socialista.
O seu trabalho em Guimarães viria a ser frequentemente apresentado em fóruns internacionais, seja como académico convidado, seja como consultor de planeamento urbano em várias cidades europeias.
“Guimarães tornou-se, pelas suas palavras e pelas suas metodologias, um caso de estudo com projeção global – e a base teórica para práticas aplicadas em cidades como Madrid, Barcelona ou Santiago de Compostela”, aponta Domingos Bragança.
Em 2007, Nuno Portas viajou até Macau com a vereadora da Cultura de então, Francisca Abreu, e o arquiteto Ricardo Rodrigues (GTL), para apresentar Guimarães como caso de estudo num curso internacional sobre reabilitação urbana e políticas culturais.
O seu legado intelectual está hoje guardado na Biblioteca da Escola de Arquitetura, Arte e Design da Universidade do Minho, em Azurém, onde se encontra o fundo documental ‘Nuno Portas’ – uma herança regional e universitária que consolida a sua relação com Guimarães.
Foi distinguido com doutoramentos honoris causa por várias instituições, incluindo a Universidade de Aveiro, o ISCTE, o Instituto Politécnico de Milão e a Universidade do Minho, por proposta apadrinhada por Jorge Sampaio. Recebeu ainda a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, e em 2017 a Medalha de Mérito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
No contexto da Capital Europeia da Cultura, em 2012, Guimarães dedicou-lhe a exposição O Ser Urbano. Nos Caminhos de Nuno Portas, celebrando meio século de pensamento e ação sobre a cidade.