Em Pagliara dei Marsi, uma aldeia italiana isolada nas encostas do Monte Girifalco, na região de Abruzzo, nasceu a primeira criança em quase 30 anos.
Numa altura em que o país atravessa uma crise demográfica, Lara Bussi Trabucco trouxe uma nova esperança a uma aldeia com cerca de 20 habitantes. Com nove meses, é considerada uma verdadeira atração.
“É inacreditável. Pessoas que nunca ouviram falar da nossa aldeia vieram só por causa dela. Aos nove meses já é famosa”, conta a mãe, Cinzia Trabucco ao jornal britânico The Guardian.
O caso de Pagliara dei Marsi evidencia a crise demográfica que afeta o país. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística italiano (ISTAT), em 2024 nasceram apenas 369.944 crianças no país, o valor mais baixo desde que há registo, e a taxa de fertilidade caiu para 1,18 filhos por mulher em idade fértil.
“Pagliara dei Marsi tem sofrido com um despovoamento drástico, agravado pela perda de muitos idosos, sem qualquer renovação geracional”, explica Giuseppina Perozzi, presidente da câmara local.
Cinzia e o marido, Paolo Bussi, são uma exceção. Os dois decidiram mudar-se para a aldeia onde nasceu o avô de Cinzia.
“Sempre quis criar a minha família longe do caos da cidade”, explica a mãe de Lara. O casal beneficiou de um apoio financeiro de 1000 euros pelo nascimento da bebé e recebe um subsídio mensal de 370 euros — medidas implementadas pelo Governo de Giorgia Meloni para combater o que a primeira-ministra chamou de “inverno demográfico”.
Apesar do incentivo financeiro, Trabucco sublinha que “o sistema precisa de ser mudado”, acrescentando que embora o país tenha impostos altos, “isso não se traduz em boa qualidade de vida ou em bons serviços sociais”.
O casal preocupa-se, ainda, com a escolaridade de Lara. A última professora que deu aulas em Pagliara dei Marsi lecionou há décadas e o futuro das escolas na região é incerto devido à baixa taxa de natalidade.
MATERNIDADE EM RISCO DE FECHAR
Despovoamento na região ameaça encerramento da maternidade da cidade vizinha de Sulmona
A cerca de uma hora de carro de Pagliara dei Marsi está Sulmona. A cidade também enfrenta o risco de ver encerrada a sua maternidade devido ao acentuado despovoamento registado nos últimos anos. Na unidade de saúde, que serve vários municípios da região, foram realizados 120 partos em 2024, um número muito inferior aos 500 exigidos para garantir o financiamento público das maternidades.
Os profissionais de saúde alertam ao The Guardian que o critério dos 500 partos anuais, definido em 2010, já não corresponde à realidade atual. A enfermeira Berta Gambina, que trabalha na unidade há quase 40 anos, sublinha que nem nos melhores anos se atingiu esse número.
“Nunca atingimos a marca mágica de 500 aqui. Mesmo nos melhores momentos, tínhamos uma média de cerca de 380 partos por ano. Mas farei tudo o que puder para mantê-la aberta. O meu maior medo é abandonar as grávidas”, disse.
Também os políticos locais questionam a coerência das políticas de incentivo à natalidade sem o reforço dos serviços de saúde. Para Ornella La Civita, vereadora do Partido Democrático, não faz sentido apoiar financeiramente a decisão de ter filhos sem assegurar condições seguras para o parto.
“Mas como se pode dar dinheiro às mulheres para terem filhos sem lhes garantir um local seguro para dar à luz?”, questionou.






