O verão de 2025, classificado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) como o mais quente e mais seco desde 1931, terminou com um saldo preocupante: 2603 mortes acima do esperado para a época.
Os dados constam do boletim de vigilância epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) e revelam que a sobremortalidade mais do que triplicou em comparação com 2024, quando tinham sido registados 715 óbitos adicionais.
Segundo o INSA, o excesso de mortalidade concentrou-se em dois períodos distintos. O primeiro decorreu entre 30 de junho e 13 de julho, com 923 óbitos acima da média, e o segundo entre 28 de julho e 24 de agosto, responsável por 1680 mortes adicionais.
Ambos coincidiram com fases de calor extremo identificadas pelo sistema ÍCARO, que monitoriza a probabilidade de aumento da mortalidade associada a temperaturas elevadas. “O calor terá sido o fator com maior contributo para o excesso de mortalidade nestes períodos”, explicou ao Jornal de Notícias Ana Paula Rodrigues, médica de Saúde Pública do INSA.
Os dados do IPMA confirmam a ligação direta entre mortalidade e ondas de calor. Durante o verão meteorológico (junho, julho e agosto), registaram-se três ondas: de 15 a 20 de junho, de 26 de junho a 9 de julho e a mais prolongada, de 29 de julho a 17 de agosto.
MÁXIMA MÉDIA ACIMA DOS 30,7%
A temperatura média do ar atingiu 23,51°C, ou seja, 1,55°C acima da normal climatológica (1991-2020), e a máxima chegou aos 30,78°C, ultrapassando em 2,09°C o valor de referência. Em contrapartida, a precipitação foi drasticamente reduzida: apenas 10,9 milímetros, equivalentes a 24% da média, confirmando o verão mais seco dos últimos 94 anos.
Somando os 1328 óbitos registados em excesso no inverno, 2025 já totaliza 3931 mortes adicionais face ao esperado, superando o total de 3072 contabilizado em todo o ano de 2024. Segundo o sistema de vigilância da mortalidade em tempo real (eVM), até 19 de setembro deste ano já se contavam 54 dias com sobremortalidade, mais 11 do que em igual período do ano anterior.
A especialista do INSA sublinha que os impactos são particularmente sentidos entre a população idosa, que representa um quarto dos portugueses. “Nos últimos verões, tal como aconteceu este ano, temos verificado períodos de calor mais prolongados e consequente excesso de mortalidade mais prolongado”, alertou Ana Paula Rodrigues.
Com este cenário, os climatologistas reforçam que os efeitos das alterações climáticas se estão a consolidar como uma realidade permanente, tornando as ondas de calor em Portugal até 40 vezes mais prováveis. O verão de 2025 confirma essa tendência, deixando um rasto de vítimas silenciosas da escalada das temperaturas.