O festival Paraíso, que decorre entre 18 e 20 de setembro em Braga, promove uma visita ao património colonial que a cidade encerra, cujo roteiro é da responsabilidade de Chisoka Simões, da Universidade do Minho.
“Em Braga há imenso património colonial e imperial, porque há que pensar que Braga também fez parte do Império durante o seu auge, não é? E a mentalidade imperial e colonial na cidade não se extinguiu com o final formal do Império Português”, contextualizou à Lusa Chisoka Simões, doutorando em Estudos Culturais pela Universidade do Minho que, durante o festival Paraíso, em Braga, está encarregue de um roteiro sobre a cidade em 20 de setembro.
Desta forma, o investigador citou que há em Braga nomes de ruas, estátuas e muitos símbolos que refletem “mais de 500 anos de poderio colonial de Portugal”.
“Braga foi muito importante por causa do clero, principalmente. A Igreja Católica teve e tem um poder muito importante em Braga e foi a partir de Braga que muitos missionários saíram para todo o mundo”, disse, acrescentando ainda que, historicamente, foi desta cidade minhota que se deu a ideia do golpe de Estado de 28 de maio de 1926, que deu origem, posteriormente, ao Estado Novo, em 1933.
“O Estado Novo reforçou todo o aparato colonial, portanto, o Código Colonial foi feito por Salazar na altura em que ele é ministro das Colónias e temos de pensar que Salazar também foi um produto em si da revolução nacional que surgiu a partir de Braga”, frisou.
Em Braga há uma estátua dos Irmãos Rubi, “que foram dois irmãos de Braga que estiveram nas campanhas de pacificação [e ocupação do território efetivo africanos no século XIX], um termo também a ser desconstruído”, o que será feito na visita também relativamente a conceitos como descobrimentos, colónias, Ultramar, disse.
FESTIVAL DA AFRODESCENDÊNCIA
“O [festival] Paraíso é um momento ligado à temática da afrodescendência que quer dar voz e palco a artistas afrodescendentes do mundo com uma desconstrução e uma simplificação dessas matérias através de arte, através da expressão artística”, explicou o curador geral do evento, Nuno Abreu.
O festival, cuja terceira edição ocorrerá entre 18 e 20 de setembro, está assente em três eixos: ‘performance’, reconhecimento e mediação (conceito novo aplicado este ano) e insere-se nas comemorações dos 50 anos das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), disse.
“Dentro de cada um desses eixos procurámos soluções e artistas, investigadores, mediadores, que pudessem, de alguma forma, retratar e falar sobre esse período histórico [da descolonização e respetivas independências]”, explicou.
A curadoria do ‘pensamento’ e do cinema deste festival foi atribuída à Bantumen – que é uma plataforma de cultura e informação sobre a comunidade negra lusófona – e na área da mediação, a professora da Universidade do Minho, Rosa Cabecinhas, é a curadora, citou.
Durante o festival, no gnration, é exibido o documentário Independência (2015), do realizador angolano Mário Bastos; a Livraria Centésima Página acolherá a mesa-redonda ‘E depois da independência? Das lutas da libertação às lutas de hoje’, com Marta Machado, Sheila Khan e Tiago Vieira da Silva, sob moderação de Marisa Rodrigues; Dino D’Santiago vai apresentar a sua nova obra, a ópera Adilson, entre outras atividades do programa.